Quando perguntam a você para que lugar você gostaria de viajar a passeio, as chances de você citar algum lugar fora do Brasil como resposta são muito grandes, não é? New York, Paris, Londres, Munique, Veneza, Los Angeles... são realmente lugares atraentes e conhecidos mundialmente. Mas você já pensou em conhecer seu próprio país?
O Brasil tem uma quantidade enorme de estrangeiros. Não estou falando dos japoneses, italianos, Franceses, Paraguaios, Uruguaios ou Argentinos. Estou falando de nós mesmos, nascidos nestas paragens tupiniquins. Nós realmente conhecemos a nossa pátria? nos respeitamos enquanto membros de uma mesma nação soberana? se alguém me fizesse essas duas perguntas, eu responderia NÃO e NÃO.
No meu ponto de vista, um habitante da hipermegalometrópole São Paulo, ou de qualquer outro lugar da abastada região Sudeste, que pensa que nós nordestinos, não conhecemos maravilhas tecnológicas como a eletricidade ou telefones celulares, não passa de um estrangeiro. Também é estrangeiro um nordestino que pensa que na região norte só há mato e índios. É um festival deprimente de preconceitos e asneiras sedimentadas em nosso povo por um senso comum emburrecedor, que me dá nos nervos.
Morei na capital federal há oito anos, por um período curto, mas suficiente para provar da ignorância geográfica de parte dos habitantes daquele quadradinho do oeste de Goiás. Eu estudava numa escola pública, porém muito boa. Eu tinha muitos amigos, gente do bem mesmo. Mas sempre vinha um engraçadinho perguntar pra mim coisas do tipo: "Ei Dowglas, como é o trânsito lá no Maranhão? só tem carroças?" ou: "é verdade que o chão lá é todo rachado por causa da seca?".
O nordeste brasileiro é uma região que sofre bastante com preconceitos, fato que torna especialmente repugnante a existência de ignorância entre um estado e outro de nossa própria região. Os maranhenses acham que os piauienses só sabem comer bode e tomar cachaça. Os piauienses são convictos de que o Maranhão é a terra da macumba, da pobreza e da miséria (quando, na verdade, Piauí e Maranhão sempre andaram de mãos dadas quando o assunto é pobreza). Todos os estados do Nordeste alimentam o senso comum de que Pernambuco é terra de maconheiros e que a Bahia só tem gente preguiçosa. Isso pra citar apenas alguns.
Eu moro no estado do Piauí, talvez o mais sofrido no que diz respeito a preconceitos. O povo daqui é muito esforçado, estudioso e ambicioso - no bom sentido, o sentido de crescer, ir pra frente. Gente humilde, trabalhadora. Mas a penosa ignorância geográfica também existe por aqui. Tenho bastante curiosidade de conhecer os preconceitos que os Ludovicenses (habitantes da Ilha de São Luís, capital do Maranhão, meu estado natal) têm com o resto do Brasil. Devem ser horríveis também. Afinal, só visitei São Luís uma única vez, ocasião na qual passei apenas um dia na cidade. Em uma próxima oportunidade, tratarei de passar mais tempo para descobrir isso.
O que está esperando? livre-se desse estrangeiro burro que há em você! Não será fácil fazer isso, ele é insistente. Mas para vencê-lo, nada como doses cavalares de leitura e informação. Nunca é tarde pra fazer isso. Afinal, viva o Piauí, o Maranhão, o Ceará, o Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Sergipe, Paraíba, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Pará, Amazonas, o sofrido e excluído Acre, Roraima, Rondônia, Amapá e o Distrito Federal. Viva o BRASIL, minha gente.
-O que? o leitor ainda quer ir pra Miami? então tá. perdi meu tempo escrevendo isso.
Os créditos da expressão "Estrangeiro Brasileiro" são do meu amigo Narcísio Sousa, em mais um dos seus momentos de indignação produtiva.