quinta-feira, 10 de julho de 2008

Skydiving of love

A mocinha estava realizada. Nunca tinha namorado alguém, digamos, assim. O rapaz era um pára-quedista profissional. Também era instrutor de saltos. Na primeira vez que levou o namorado à sua casa, os pais ficaram com o pé atrás.

- Mas isso não é perigoso?
- Que nada, mãe - respondeu a garota.

O pai, sentado numa poltrona de tecido vermelho-escuro ao canto da sala, parou de ler o jornal e levantou-se quando ouviu a conversa sobre o trabalho do rapaz. Aproximou-se dele:

- Hum, um pára-quedista – admirou-se o pai.
- E instrutor – retrucou o jovem.
- Eu tive um amigo que foi pára-quedista do exército no Rio de Janeiro, lá pelos anos setenta. Fez oitocentos e tantos saltos. Hoje está aposentado.
- No dia dos namorados, vou dar um salto de presente pra sua filha. Vamos pular juntos!
- Como é que é? Minha filha! Você teria coragem?
- Claro, pai. O Gilberto é o melhor de todos os skydivers que conheço.
- Eskai o quê?
- Ah esquece, pai.

E assim passaram-se pouco menos de dois meses até o dia 12 de junho – uma tarde ensolarada, com ventos fracos e um céu de brigadeiro com um azul de tonalidade olhos-de-Ana-Paula-Arósio. Encontraram-se numa pistinha de pouso, feita de terra, afastada da cidade. Preparativos iniciais completos, tudo dito, re-dito e ter-dito, equipamentos de segurança ajustados (“não se preocupe, eles suportam até duzentos quilos”).

- Já vamos decolar! Alguém quer ir ao banheiro? – berrou um sujeito de macacão colorido perto do avião que seria usado no vôo.

Feitas as necessidades, o pequeno grupo acomodou-se no também pequeno avião que, sem demora, deixou o solo e partiu rumo ao azulão do firmamento. Lá pelas tantas, o piloto nivelou o avião e fez um sinal para o grupo. Era a hora da verdade.

- Vamos lá! – gritou o rapaz para a moça, atrapalhado pelo vento que sacudia a aeronave. Então saltaram. O avião ficava menos acima deles, e o ar batia cortante nos óculos protetores. Pareciam flutuar. Era assim, afinal, que os condores sentiam-se em seu vôo majestoso e solitário – pensou a garota.

Mas ao contrário dos condores, o casal estava caindo a duzentos quilômetros por hora. Após alguns segundos de queda livre, já era tempo de puxar a alça e abrir o pára-quedas, mas o rapaz retardava a ação e prolongava o mergulho – ele estava em êxtase. Afinal, aquele salto era especial, estava junto da namorada. O vento baita forte nas bochechas da moça, quando ela olhou para o rosto do namorado, que conservava os olhos fechados e um esboço de sorriso. Começou a preocupar-se. O chão crescia à frente, e ela nada podia fazer. Tentou chama-lo, tentou também puxar a alça do pára-quedas, mas não a alcançou.

E assim mergulharam velozmente até o solo, num momento final de amor e contemplação.


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TCHARAAAAM hehehehehe.







3 comentários:

Gerusa disse...

Desce e arrasa!!!
huashuashuashuas

Biani Luna disse...

kkkkkk
zul de tonalidade olhos-de-Ana-Paula-Arósio é ótimo!
pooxa, esse desfecho é mt cruel, hahaha!
e AMEI o comentário acima!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Dowglas Lima disse...

Biani, o "azul de tonalidade olhos-de-Ana-Paula-Arósio" foi a única expressão que consegui utilizar pra retratar o céu que imaginei ao escrever o texto.

e eu adoro finais surpreendentes (nem precisam ser cruéis, como é o caso desse texto em especial).